Violência Urbana: Como abordo esse tema em Sociologia

Eu costumo levar para meus alunos lerem o texto "O Crime Elegante", escrito por Walter Ceneviva e publicado pela Folha de São Paulo em 1981. Pode ser encontrado no livro Filosofando (Aranha e Martins), logo nos primeiros capítulos.
O texto fala sobre a reação de ódio e preconceito que a sociedade (incluindo a mídia e o próprio sistema jurídico) nutre em relação a crimes menores, típicos de "trombadinhas" e a leniência quanto a crimes do "colarinho branco". As penas para esses últimos são ridiculamente pequenas comparadas às penas aplicadas ás pequenas infrações. No entanto, os crimes do "colarinho branco" são muito mais daninhos à sociedade.

Após leitura e debate, vimos o filme/documentário Ônibus 174, que causa forte impressão nos adolescentes (na verdade em todos), gerando uma boa discussão. O documentário mostra cenas reais do sequestro de um ônibus no Rio de Janeiro. Sandro, o sequestrador é um ex-menino de rua que sobreviveu à Chacina da Candelária. Entre as cenas do sequestro, são mostradas entrevistas com as vítimas do sequestro, os parentes e amigos de Sandro, a assistente social que acompanhou o caso da Chacina e vai mostrando a história de vida de Sandro, que levou àquele derradeiro momento do sequestro.

É muito fixa entre os adolescentes a idéia de que bandido é um cara mau, que é bandido porque quer, se quisesse tomava outro caminho. Idéia essa muito simples, carregada de ideologia e que não sobrevive a um primeiro exame. Vejamos: se as coisas são tão simples assim, porque a maioria dos bandidos (ladrões, traficantes, assaltantes, assassinos) tem algumas características em comum? Características como a pobreza, má ou falta de educação formal, exposição à violência e consumo de drogas, etc. Por que a maioria dos profissionais bem sucedidos tem outras características em comum? A saber, famílias estruturadas, cuidados na infância, boa educação, etc.

É muito importante frisar para os alunos o uso das palavras:
todos
alguns
muitos
poucos

Pois é certo que vão lembrar-se que nem todo bandido é pobre ou sofreu abuso na infância, e estão certos. O que tem que deixar claro é que grande quantidade dessas pessoas viveram nessas condições. E também que as condições sócio-econômicas não são determinantes, mas deixam poucas e mais difíceis opções.

O ideal é que os alunos construam essas idéias sozinhos, sem o professor dizê-las. O professor pode instigar com perguntas, problemas, etc Ex.: Você votaria em um candidato que prometesse mais presídios ou melhor educação? Qual dessas propostas, em sua opinião, contribuiriam para diminuir a violência urbana? Por quê?). Apresentar as estatísticas e perguntar qual a conclusão dos alunos.

A proposta de aula não pode ser só negativa, tem que ser positiva também. Pode-se convidar os alunos a propor soluções, saídas que não envolvam pena de morte, tortura, etc. Estou pensando em armar um cenário onde os alunos são candidatos a prefeito, governador, presidente, e apresentem idéias para minimizar a criminalidade.

A música "O Malandro" de Chico Buarque (in "Ópera do Malandro") é um bom complemento para essas aulas, só não sei se os alunos vão gostar, uma vez que não é funk ou pagode... mas a letra é muito boa, preste atenção.

0 comentários:

Postar um comentário